Download: Episódio 5 – Depois do fim

No final dos anos 70, a situação política de Mariana passava por um novo ciclo de mudanças. Eleito em 1972, João Ramos Filho exerceu o cargo de Prefeito Municipal de 1973 a 1977 e aproveitou a oportunidade para se consolidar como novo chefe político. Em novembro do ano anterior conseguiu eleger seu candidato Jadir Macedo, filiado à ARENA 1, que derrotou o ex-prefeito Euclydes de Souza Vieira, obtendo 53,5% dos votos válidos. Diferentemente do que havia acontecido em 1972, porém, o MDB conseguiu eleger 3 dos 13 vereadores. Entre eles, Vanderlei Eustáquio Machado.

Resultado da eleição municipal – 15/11/1976

Mas, pouco tempo depois da posse, Jadir Macedo e João Ramos desentenderam-se, obrigando o primeiro a administrar a cidade com maioria contrária na Câmara de Vereadores, em um mandato que foi estendido para 6 anos.

Durante as comemorações do 281º aniversário de Mariana, no dia 16 de julho de 1977, Roque Camêllo, integrante da Academia Marianense de Letras lançou a ideia da instituição de uma data cívica estadual, o Dia de Minas Gerais. Com o apoio da Câmara e das autoridades, a proposta foi encaminhada ao governo estadual e à Assembleia Legislativa, resultando na Lei 7.561, sancionada pelo Governador Francelino Pereira no dia 19 de outubro de 1979. De autoria do deputado estadual Domingos Lanna, a lei previa a transferência simbólica da capital para Mariana, no dia 16 de julho de cada ano.

Governador Francelino Pereira (à direita), em solenidade na Câmara Municipal de Mariana, realizada em 1979.

Na mesma ocasião, em discurso pronunciado por Roque Camêllo, foram apresentadas diversas solicitações ao Governador do Estado, entre elas a construção de uma “estrada de contorno da cidade, para evitar danos inerentes ao transporte pesado ao patrimônio barroco de Mariana”; a “extensão de 5ª e 6ª séries em todas as escolas estaduais de 1º grau nos distritos do município”; a “instituição do 2º grau na Escola Estadual Dom Silvério, com habilitações profissionais de nível técnico inexistentes nas outras escolas do mesmo grau em funcionamento na cidade”; a “interferência junto ao Governo Federalno sentido de instalar Agência do Banco do Brasil na cidade” e a criação, “em convênio com a Prefeitura e a Arquidiocese de Mariana, do Parque Florestal de Mariana, em área situada na denominada mata do Seminário, integrante do maciço do Itacolomi”.

Nasceu aí também, a ideia da realização do 1º Encontro para o Desenvolvimento de Mariana – EDEM I, realizado de 25 a 28 de outubro de 1979, cuja coordenação geral coube a Roque Camêllo, Sylvestre Freire de Andrade, Frederico Ozanan de Moura Santos, Vanderlei Eustáquio Machado e Ilton Olímpio da Silva.

Ainda em 1979 nasceu o primeiro filho de Evandro Rolim e esse foi o motivo de seu não comparecimento a um baile de debutantes na cidade de Conselheiro Lafaiete (MG), resultando em uma apresentação classificada como um fiasco por Marcelo Morais. Na ocasião, devido a dificuldades de movimentação de Marcelo Rolim, decorrentes de um acidente de moto, Ivan Pachá estava havia sido integrado ao The Rebels, para ajudar na percussão.

O baile foi realizado apenas com Marcelo Rolim na bateria, Marcelo Morais no contrabaixo, Carlinhos Baeta nos teclados e Ivan Pachá na percussão, o que exigiu da banda um esforço enorme de superação e o corte de um considerável número de músicas que dependiam de solos ou base de guitarra.

Ao final do baile, já voltando para Mariana, Marcelo Morais informou aos colegas que o episódio tinha sido a gota d’água e que ele só cumpriria o compromisso agendado para o reveillon, já contratado por um outro clube também de Lafaiete.

Já com outros interesses profissionais, casado e com um filho, Evandro Rolim conta que já deveria ter deixado a banda, mas o fim foi mesmo decretado após o baile de reveillon, ou seja, no dia 1º de janeiro de 1980.

Marcelo Rolim, depois da dissolução da banda, dedicou-se a outras atividades profissionais e só cantava, esporadicamente, em reuniões familiares ou em rodas de amigos em bares. Seu irmão, Evandro Rolim, que pouco tempo depois mudou-se para o Pará, não deixou seu violão, mas também só tocava em casa ou em reuniões de amigos, sem nenhum compromisso formal com uma carreira musical.

O mesmo se deu com Léo Murta, que já residia em Belo Horizonte ainda antes do final da banda Os Incas, e que apenas vez ou outra tocava bateria com amigos e primos.

Jairo Antunes, assim como seu irmão Cleber (Os Abutres), havia se mudado para Juiz de Fora e ambos se afastaram da música. O primeiro só voltou a cantar quando, já de volta a Mariana, passou a apresentar-se em bares e outros tipos de eventos, agora acompanhado de um teclado.

Apresentação de Jairo Antunes, sem data, onde hoje é o bar Whyskadão, atual Restaurante Rancho da Praça (Mariana-MG)

Dadinho e Fernando Motta (Os Abutres), Waltinho (os Incas) e Otacílio da Silva Os Incas/Os Abutres), também deixaram a cidade, por motivos profissionais, e não há registro de continuidade de suas atividades musicais. Mesmo residindo em Mariana, Vicente Mendes (Os Incas) passou muito tempo sem se dedicar à música.

Lalado, que já havia deixado a banda Os Abutres, para se dedicar aos estudos, passou a residir em Barão de Cocais. Aposentado atualmente, exerce sem grandes compromissos algumas atividades musicais, mas durante algum tempo integrou o conjunto de serestas Barões ao Luar, naquela cidade.

Apresentação do Conjunto de Seresta “Barões ao Luar”, 2013, Barão de Cocais (MG)

Também residindo em Juiz de Fora, por motivos profissionais, Marcelo Morais, a princípio, passou um tempo afastado da música. Isso só mudou quando, em uma festa, aceitou um convite para cantar e entusiasmou-se com a receptividade. Passou então a apresentar-se em barzinhos e recepções, adquiriu equipamentos e chegou até a montar um bar, em sociedade com um amigo, no qual tocava e cantava nos finais de semana. Essa atividade foi intensificada quando desligou-se do emprego e passou um bom tempo dedicando-se à música e atividades de docência.

Marcelo Morais em apresentação no Hotel Ouro Minas – 1999

Sem sair de Mariana, Zé Afonso (The Rebels), Tumão (The Rebels/Os Abutres), Canelão (Os Abutres) e Mundinho D’Angelo (Os Incas) continuaram com atividades musicais, embora de forma esporádica, apresentando-se juntos ou isoladamente no Senzala e pela noite marianense.

Paralelamente a outras atividades profissionais, Canelão foi aos poucos adquirindo instrumentos de corda (já são 28 guitarras e contrabaixos), bateria, teclado e aparelhagem de som para montar um estúdio amador em sua residência.

Instrumentos musicais reunidos por Canelão em seu estúdio caseiro

Nesse ambiente, ele compõe músicas instrumentais e grava cd’s de covers de sucessos nacionais e internacionais, executando solos de guitarra e guitarra-base sobre samplers de vocais, bateria e contrabaixo.

Uma das tentativas de reagrupamento musical foi a banda Fusão, composta por Zé Afonso, Tumão e Canelão, juntamente com João Batera e Luiz D’Angelo. Tumão só se lembra “vagamente” de uma apresentação da banda, realizada no clube da Vila Samarco.

Registro de ensaio da banda Fusão – Foto: Reprodução Facebook-Marco Tukoff

No vídeo abaixo, um raro registro em vídeo de um dos ensaios da banda Fusão, com 3 curiosidades: Zé Afonso fazendo vocal; Canelão invertendo com Zé Afonso a função de guitarra-solo e guitarra-base; e a ausência de Luiz D’Angelo que, segundo Tumão, também participou da banda. A música é “Vivo só”, versão gravada por Renato e seus Blue Caps, em 1966, da música For your love (The Yardbirds, 1965).

Outra tentativa de reunião, “apenas uma farra”, nas palavras de Jairo Antunes, foi um baile realizado no dia 14 de novembro de 1985, no salão do Ginásio Dom Frei Manoel da Cruz (atual Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Ufop), reunindo Jairo Antunes (vocal), Tumão (contrabaixo), Carlinhos Baeta (teclados), Zé Afonso (guitarra), Marcelo Rolim (bateria) e João Batera (percussão), cuja divulgação denominada o grupo como “Ex-Rebels”.

Cartaz de divulgação do baile realizado em 15/11/1985
Acervo: Gustavo Muller – Foto: Márcio Lima

O vídeo abaixo é um dos registros do baile, revelando uma certa precariedade de instrumentos e aparelhagem de som e luz – a maior parte alugada, segundo Jairo Antunes, bem como o amadorismo da filmagem, provavelmente realizada com equipamento Super-8, com poucos recursos tecnológicos. Outros 6 registros desse baile estão disponíveis na galeria “Videos: Baile Ex-Rebels” na aba Multimídia.

No ano anterior ao baile dos Ex-Rebels, nossos personagens sofreram a primeira baixa: Otacílio da Silva, ex-contrabaixista das bandas Os Incas e Os Abutres, faleceu em São Paulo.

Na madrugada de 1º de janeiro de 1997, outro grande golpe: Zé Afonso é covardemente assassinado a pauladas, em um bárbaro crime ainda não solucionado.

Em 2008, uma iniciativa da Santa Casa de Misericórdia reúne os membros remanescentes do The Rebels. Alguns percalços, como o pequeno espaço dado a Jairo, e a consideração de que Marcelo Rolim não teria condições de desempenhar adequadamente as funções de baterista, devido à sua grande inatividade (na versão de Marcelo Morais) ou para atender a um pedido de Mundinho D’Angelo (na versão de Marcelo Rolim), forçaram a realização do evento beneficente com uma formação diferenciada, com Mundinho D’Angelo na bateria e Felipe D’Angelo (filho de Mundinho) na guitarra solo, neste caso devido à ausência de Zé Afonso. Por iniciativa de Marcelo Morais, Vilma Araújo também foi convidada a integrar o grupo.

Dificuldades também de ensaios mais frequentes, uma vez que Evandro residia no Pará, também levaram o grupo a investir em playback e na escolha do repertório.

A apresentação ocorreu no Centro de Convenções da Ufop, num ´sabado de Aleluia, dia 22 de março de 2008. Abaixo a reprodução
da divulgação do evento Rebeldes por uma Causa Santa no jornal A Semana, Edição de 21 a 27/02/2008.

Segundo informações de Marcelo Morais, 600 pessoas compareceram ao evento, cuja renda bruta estimada, revertida para a Santa Casa de Misericórdia, atingiu aproximadamente R$ 110.000,00 (valor atualizado para agosto/2018 pelo INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor.

Na abertura da apresentação a música tocada foi Shine on you crazy diamond, do Pink Floyd, e o DVD gravado na ocasião contou com 27 outras músicas, cujos vídeos estão disponibilizados na galeria “Videos: Rebeldes por uma Causa Santa”, na aba Multimídia.

A partir de 2009 começam a se intensificar a partida de alguns de nossos personagens, quando ocorre o falecimento de Mundinho D’Angelo (Os Incas). No ano seguinte foi a vez de Carlinhos Baeta (Os Abutres/The Rebels). Três anos depois morre Waltinho (Os Incas) e, em 2015, Fernando Motta (Os Abutres).

Dos “Rebeldes!” remanescentes, o mais assíduo na música é Marcelo Morais, que continua apresentando-se em recepções e participa de um grupo que visita regularmente um hospital de Belo Horizonte.

Depois de aposentado, residindo em Vila Velha (ES), Evandro decide dedicar-se mais seriamente ao aprendizado musical e, ao longo de 3 anos teve aulas de música erudita, com uma professora particular. Mas, depois desse período, chegou à conclusão que não era bem isso o que queria. Contratou um jovem professor e começou a aprender jazz. Entretanto, incentivado por esse professor, decidiu preparar-se para fazer o vestibular da FAMES (Faculdade de Música do Espírito Santo), tendo sido aprovado, no início de 2018, para o instrumento piano.

No vídeo abaixo, gravado especialmente para este trabalho, ele toca teclado e canta a música “Imagine”, de John Lennon.