Download: Episódio 4 – O princípio do fim

Ainda nos anos 60…

No início dos anos 1960, as atividades culturais existentes resumiam-se a palestras na Academia Marianense de Letras, fundada em 1962, mas que atraíam poucos jovens. “Nem todos gostavam, porque era da idade, eu sempre gostei”, afirma Vanderlei Machado, lembrando que, esporadicamente, também aconteciam apresentações teatrais ou musicais no Seminário Maior São José e no Colégio Providência.

Ainda nesta época havia também as sessões de cinema no Cine Teatro Municipal, onde hoje funciona o Centro Cultural Sesi Mariana. Para um jovem na faixa de 20 anos, segundo Vanderlei, as diversões resumiam-se a “bailes no Guarani, no Marianense e cinema. E ficar no jardim vendo as moças passar. Ali naquela parte baixa do jardim, a gente ficava parado e as moças ficavam passando para lá e para cá. Não tinha mais nada [além] disso”.

O cenário começa a mudar a partir de 1965, quando Frei José Afonso e o seminarista marianense Emanuel Rocha, juntamente com “Jairo, José Carlos Betônico, Juca Sinhá, Danilo, Paulinho Farrate e Leonardo Murta” passaram a reunir-se “na portaria do Seminário [Maior] para ensaios das peças de teatro e do coral”, grupo formalizado em 9 de outubro do mesmo ano, sob a denominação de JUMA – Juventude Unida de Mariana. O episído é contado na publicação comemorativa dos 50 anos de fundação da JUMA, Margareth Veisac Marton (p.13) e complementado por Vanderlei Machado: “A finalidade do grêmio era justamente que em Mariana não tínhamos como participar de alguma coisa que pudesse trazer para área cultural. E Emanuel Rocha […] fala, que ele também, como seminarista, precisava de fazer alguma coisa para os jovens de Mariana”.

Margareth ainda relata que o grupo chegou a apresentar 3 peças de teatro, “Não sou Judas”, “Matei meu filho” e “Gloriosa canalha”, utilizando o salão do Seminário Maior, do Colégio Providência, do Cine Teatro Municipal, além de cidades do interior de São Paulo como Ourinhos, Assis, Ibirarema e Piraju.

Grupo de Teatro da JUMA: Elenco da peça “Gloriosa Canalha”, encenada no salão do Colégio Providência

Desenvolveram também ações sociais, como “um levantamento socioeconômico de alguns bairros, conseguindo ajudar àqueles mais necessitados” e, fundamentalmente, buscaram contribuir para modificar o “comportamento rígido de uma sociedade, tipicamente reservada, do interior mineiro”, como relata Margareth Marton, na publicação já mencionada.

Nesse sentido, ignorando propositalmente a férrea divisão Direita e Esquerda, nascida na política, mas que também interferia em atividades esportivas e sociais, os integrantes da JUMA, oriundos de famílias de ambas as correntes, promoviam reuniões em suas casas e convidavam os pais, independentemente da corrente política, fazendo com que começassem “a ficar amigos também, por causa da gente”, nas palavras de Vanderlei Machado.

Tentativa semelhante de quebrar a dicotomia política já havia sido feita na eleição municipal de 1966, quando, um grupo de “jovens marianenses contrários ao tipo de política populista e coronelista que vigorava há anos no município” (de acordo com Margareth Veisac Marton e Dalva Pereira, no livro “Benjamim Lemos: A história de um marianense”, p.55) decidiu criar o Clube da Terceira Força. Ozanan Santos lembra que esse grupo conseguiu eleger vereadores os estudantes universitários Roque José de Oliveira Camello e Raimundo Milton Tonidandel.

No âmbito social, a divisão Direita/Esquerda também era nítida e “além de ser proibido relacionar-se e misturar-se ‘ao inimigo’, era obrigatório posicionar-se a favor ou contra”, a despeito de algumas defecções que cindiam algumas famílias. Nas palavras de Ozanan, “os dois irmãos, Gomes Freire de Andrade e Augusto Freire de Andrade, eram fraternos adversários políticos em Mariana. Enquanto o primeiro comandava a Direita, o segundo liderava a Esquerda”.

As facções, além do aspecto político e social, também passaram a demarcar outros aspectos da vida da população marianense. No livro “Benjamin Lemos…”, Margareth e Dalva (p.51) relatam que “a fragmentação política encontrou no futebol o local propício para se manifestar. Na direita, o clube Marianense criado por Gomes Freire em 1912, servia para extravasar a euforia de seus simpatizantes. A esquerda, para não estar em desvantagem, criou o Guarany Futebol Clube em 1925. Após os jogos de futebol os insultos eram recíprocos e não tinha distinção de classes sociais”.

Embora tenha sido utilizada, no início, como forma de aproximação “daquelas famílias que não se relacionavam por problemas políticos”, a JUMA também acabou vítima dessa polarização, já que seus integrantes também se dedicavam aos esportes, com pelo menos grande parte deles, jogando futebol nas categorias de base do Guarany. Mas, devido a desentendimentos com jogadores do clube (que não participavam da agremiação), resolveram criar a Associação Atlética JUMA, registrada em cartório em 1967. A divisão político-esportiva fez-se presente quando, no ano seguinte, perdeu a final do campeonato municipal para o Guarany, tendo sido desfalcada de alguns jogadores, “impedidos por seus pais de entrar em campo contra o time do qual eram torcedores”.

A forra veio em 1969, quando a JUMA sagrou-se campeã municipal, ganhando exatamente do Guarany na partida final.

JUMA com uniforme do time do Seminário Menor Nossa Senhora da Boa Morte. Zezinho Maciel, Aloisio, Leo, Agostinho, Vanderlei e Zé Carlos Botô. Lalau, Daniel, Danilo, Dante e Jairo

O aspecto de divisão de classes sociais em Mariana era profundamente acentuado. “O Marianense era o ambiente da elite e o Guarany das camadas mais populares”, chegando-se mesmo à situação em que negros e pardos eram admitidos como jogadores no Marianense, mas não podiam integrar seu quadro social, sendo até mesmo barrados em bailes ou outras comemorações que aconteciam na sede do clube.

Não que houvesse propriamente uma “elite cultural ou econômica” na cidade. Poucas famílias eram detentoras de grandes recursos econômicos ou possuíam elevado nível cultural. Entretanto, as que pelo menos apresentavam condição financeira minimamente estável, as que tinham integrantes ocupando cargos ou empregos no comércio, no funcionalismo municipal ou estadual, eram consideradas de classe superior aos pobres e negros, geralmente empregadas domésticas e operários sem qualificação formal.

Esse aspecto era nítido nos footings que aconteciam na Praça Gomes Freire, conhecida até hoje como Jardim, nas noites de sábado e domingo a partir do término da “missa das seis” (18 horas) e era engrossado depois do término da primeira sessão do Cine Teatro Municipal.

A calçada da parte baixa do jardim era ocupada por moças e rapazes. As moças da “elite” caminhavam na calçada enquanto os rapazes da mesma classe social ficavam ao longo do percurso do footing, conversando e tentando estabelecer contato com as moças, atividade conhecida à época como “paquera”. Até meados de 1968, a caminhada feminina era restrita ao trecho entre a esquina do Jardim com o prolongamento da Travessa São Francisco e a esquina com a Travessa Salomão Ibrahim. Vanderlei Machado conta que, “da Rosângela [Bar da Rosângela, estabelecimento comercial atualmente existente na esquina mencionada] pra lá, era só casais de namorados e um do lado do outro só, nem na mão pegava”.

Mas a faixa situada em nível um pouco mais alto, já no jardim propriamente dito, era ocupada pela “classe baixa”, mais adequadamente caracterizada pela condição racial (negros, mulatos e pardos) e econômica menos privilegiada, como explica Vanderlei: “As meninas de família não podiam subir que lá em cima era o lugar… Era os namorados mais…. Para a época, não é? Beijar na boca lá e pronto, mais nada do que isso também não”.

O trajeto do footing foi alterado em meados de 1968, quando foi inaugurado o Mini Lanche, no andar térreo da casa vizinha ao Bar da Rosângela, e o Senzala, no ano seguinte, no casarão ao lado do Mini Lanche. Com isso as moças passaram a caminhar ao longo de toda a calçada da parte baixa da praça, principalmente porque a região diante do Mini Lanche e do Senzala passou a ser mais frequentada pelos rapazes.

O Mini Lanche começou como uma lanchonete, uma doceria. Mas aos poucos foi transformando-se em um barzinho, bastante acanhado em termos de espaço no início, mas que atraía a atenção dos jovens já que o proprietário, Pedro Mandarino, tinha o costume de adquirir discos de vinil (Long plays e compactos simples ou duplos) que tocavam em uma radiola dotada de duas grandes caixas de som colocadas nas portas do estabelecimento, voltadas para o exterior, atraindo os jovens que tinham a oportunidade de conhecer um repertório bastante eclético de músicas nacionais e internacionais, muitas delas presentes nos setlists dos bailes e horas dançantes, comandadas pelo The Rebels, Os Abutres e Os Incas, que aconteciam nos dois clubes sociais.

Para Vanderlei Machado “foi nessa época que as coisas começaram a economicamente mudar, culturalmente e socialmente também, nós tivemos o fenômeno Mini Lanche e Senzala, que mudou um pouco a cabeça das coisas, as meninas começaram a sair mais, deu muita confusão, elas não podiam entrar, porque era uma boate, era um restaurante e tinha no fundo uma boate”.

A opinião de Vanderlei é corroborada por Ozanan, que vê, a partir daí, uma mudança nos costumes locais, uma certa “emancipação” feminina que, inclusive, passou a ter hábitos tabagistas, o que não lhes era permitido em casa, mas considera, em tom saudosista, que o Senzala “era um lugar da elite, da juventude marianense”.

E é nesse cenário, no penúltimo ano do mandato do prefeito Euclides Vieira, representante da Direita, que a cidade se despede dos anos 1960, com a perda da opção cultural proporcionada pelos integrantes da JUMA, uma vez que, como conta Margareth Veisac Marton, “não existiam em Mariana oportunidades de emprego e de estudo superior. Os jovens tiveram que partir, cada um em busca de seus destinos, em outras paragens distantes. Acabou o coral, acabou o teatro, ficou só o futebol”.

Anos 70

Os anos 1970 começam em Mariana com os jovens permanecendo na cidade devido à possibilidade de estudar no Colégio Estadual Dom Silvério (Curso secundário, correspondente à segunda metade do atual ensino fundamental), já em instalações próprias localizadas na Avenida Manoel Leandro Corrêa, mais matriculados na Escola Técnica Federal de Ouro Preto (atual Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Ouro Preto) e na Escola de Minas e Escola de Farmácia, reunidas em 1969 para constituir a Universidade Federal de Ouro Preto.

Ecos tardios dos loucos anos 1960, como o verão do amor, o movimento hippie e o festival de Woodstock começaram a apresentar seus efeitos na sociedade marianense, em especial no comportamento dos jovens, em termos de vestuário, postura e linguagem.

A esse respeito, Maria Eunice Maciel, no artigo “A (r)evolução dos costumes: nada mudou, tudo mudou” (2009, p.65), diz que “não foram os anos 60 que inventaram uma série de referências que a eles ficaram ligados, tais como o feminismo, a liberdade sexual, a consciência ecológica ou a luta contra a discriminação. Porém, deram um novo sentido e acabaram por transformar o cotidiano e o modo de vida das pessoas”.

Embora lentamente, as mulheres jovens em Mariana começam a modificar seu comportamento social, frequentando o Mini Lanche e o Senzala, saindo mais e permanecendo até mais tarde nas ruas, principalmente às sextas e sábados, além de fumar e utilizar bebidas alcoólicas sem grandes preocupações com a opinião alheia, embora não o fazendo, como muitos rapazes, diante dos pais. “Os jovens queriam experimentar a vida, a moral sexual ficou mais flexível, surgiram novos comportamentos, novas expectativas”, diz Vanessa Aparecida Muniz, no artigo “Práticas de namoro em Lages na década de 1970”.

Já para Eli Braz, em “Comportamento anos 70, só sexo e drogas?”, há quem diga que, “no começo dos anos 70 os jovens eram embalados pelo lema sexo, drogas e rock and roll. […] Claro que isso não foi a regra”. E isso é especialmente verdadeiro, principalmente em uma cidade interiorana, com uma sociedade patriarcal, conservadora e preconceituosa, além de cultivar fervorosamente as tradições religiosas.

Ainda segundo Vanessa Aparecida Muniz, “Eram tempos de mudanças? Sim, porém não se trata de uma mudança radical, foram algumas conquistas. Essas carícias, beijos de língua, sexo com o namorado, sim passava a ser mais aceito, todavia a garota que ‘se entregasse com facilidade’ ainda era considerada uma mulher fácil, fútil, e muitas vezes chamada de ‘galinha’. O namoro, a sexualidade, ainda estavam sob vigilância de instituições como igreja, escola, família”.

No âmbito familiar, algumas mudanças também fizeram-se sentir. A proximidade da Copa do Mundo, realizada no México em 1970, tendo em vista a primeira transmissão ao vivo dos jogos, provocou uma corrida às lojas de eletrodomésticos, que venderam milhares de televisores nos meses que antecederam a Copa, o que também aconteceu em Mariana, obviamente em número muito menor, mas aumentando consideravelmente o número de aparelhos nos lares.

Em decorrência disso, o televisor passou a ser o centro das atenções, principalmente a partir das 18 horas, criando-se o hábito de reunir a família para assistir novelas, programas jornalísticos e de variedades. Exibido pela TV Globo Minas, sucessora da TV Belo Horizonte, para a capital do estado e interior mineiro, desde 1º de setembro de 1969, o Jornal Nacional, aos poucos foi suplantando em audiência o Repórter Esso, programa jornalístico da Rede Tupi, retransmitido para Minas Gerais pela TV Itacolomy, um dos dois canais de Belo Horizonte pertencentes aos Diários e Emissoras Associadas.

As comemorações pela conquista da seleção brasileira do tricampeonato mundial, no dia 21 de junho de 1970, antecipando em algumas horas o movimento de jovens nas proximidades do Mini Lanche e do Senzala, mas também era ano de eleições municipais e seria posta à prova a polarização Direita/Esquerda, travestida respectivamente em Arena 1 e Arena 2, em decorrência do bipartidarismo e da instituição das sublegendas pela ditadura militar.

Margareth Veisac Marton e Dalva Pereira relatam que João Ramos Filho, vereador na legislatura 1959-1962, a despeito de problemas com a Justiça, João Ramos Filho “exerceu forte domínio sobre autoridades civis, eclesiásticas, profissionais liberais e intelectuais”. Mais assertivo, Ozanan Santos diz que João Ramos “revolucionou os costumes políticos de Mariana. Antigamente, as atividades políticas locais eram apenas exercidas durante o ano eleitoral. Quem ganhava eleições exercia o poder, quem perdia fazia oposição. Eram três anos, sem nenhuma atividade político-eleitoral. João Ramos mudou esse costume. Ele profissionalizou a política em Mariana. Era a política eleitoral antes, durante e depois das eleições. Política eleitoral em tempo integral”.

Em 1970, tentou concorrer ao executivo marianense pela Arena 1, mas teve suas pretensões barradas por Celso Mota, advogado e ainda respeitado chefe político da Esquerda. Em articulação com Benjamim Lemos, que acabara de deixar a Direita por desavenças com integrantes da diretoria do Marianense, João Ramos Filho, estabeleceu como alternativa política, “juntamente com João Bosco Carneiro e Cícero Pinheiro, a criação do diretório do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Mariana” e o lançamento de Hélio Petrus Viana, segundo Margareth Veisac Marton e Dalva Pereira, por indicação de Benjamim Lemos.

Essa versão não é inteiramente confirmada por entrevistados. “Apoio de João Ramos Filho” é a expressão utilizada tanto por Ozanan Santos quanto pelo próprio Hélio Petrus, para quem a fundação do diretório local do MDB foi uma ação de João Bosco Carneiro, juntamente com o deputado estadual Nilson Gontijo.

Outras informações discrepantes referem-se à declaração de Cícero Pinheiro a Marton, que diz lembrar-se “que Hélio foi apresentado por Benjamim como um rapaz ‘educado, íntegro e querido pelo povo de Mariana’” e que “Hélio não era da Esquerda, ele era da Terceira Força”, além da passagem que narra o encontro de João Ramos, Cícero Pinheiro, Badih Mansur e Benjamim Lemos com Petrus, após as aulas do curso de Filosofia que este frequentava à noite, no Colégio Providência, no livro “Benjamim Lemos:…”.

Nas lembranças, o próprio Hélio Petrus afirma ter sido pego de surpresa, por não ter nenhuma vocação ou militância, assim como não alimentava nenhuma pretensão política. Sem muita convicção, ele atribui a João Bosco Carneiro, Vanderlei Machado ou Frederico Ozanan, com quem tinha mais contato por terem sido vizinhos, a lembrança de seu nome. Confirma, porém, ter sido informado que João Ramos estaria disposto a bancar financeiramente a campanha, “porque ele estava interessado nas próximas eleições” que deveriam ocorrer em 1972. Isso porque, o Ato Institucional nº 11, de 14/08/1969, havia estabelecido a data de 31 de janeiro de 1971 para a posse dos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores a serem eleitos em 15 de novembro de 1970, com vigência até 31 de janeiro de 1973, quando seriam empossados eleitos em 15 de novembro de 1972, em eleições unificadas a serem realizadas em todos os municípios do país.

Vanderlei Machado diz que “o Hélio foi assim pego de surpresa, inclusive nem filiado a partido estava. Tem uma história aí que o livro de filiação do partido, naquela época era feito em livro, não era feito em fichas, esse livro, quando o promotor deu pela coisa, pediu o livro, o livro sumiu. João Bosco esqueceu ele dentro do ônibus Pássaro Verde”.

O ex-prefeito confirma que a convenção do partido “foi feita em cima do prazo, poucos meses antes das eleições”, que houve sim alguma coisa no sentido da afirmação de Vanderlei Machado, inclusive com a suspeita de que tenha havido alguma participação do deputado Nilson Gontijo, e que, “realmente, a convenção deve ter sido fora do prazo, estava muito em cima da hora”.

O adversário, candidato da Direita, mas formalmente indicado pela Arena 1, era João Sampaio, que já havia sido Prefeito Municipal entre 1963 e 1966, foi derrotado “com uma diferença de no máximo 500 votos”, segundo afirmação de Hélio Petrus; em uma eleição que foi considerada por Vanderlei Machado como um pleito que “ninguém também imaginava que o Hélio fosse ganhar” e que o próprio candidato, em nenhum momento chegou a acreditar na vitória.

A atuação das bandas The Rebels, Os Abutres e Os Incas nunca se misturou com a política local, mesmo em uma cidade historicamente dividida em duas facções (Direita e Esquerda), e que viu, em 31 de janeiro de 1971, a situação aparentemente modificada com a posse de Hélio Petrus como Prefeito de Mariana, com direito a sessão solene, almoço oficial de posse, baile no auditório do Ginásio Dom Frei, além de um churrasco popular oferecido à população na Praça Gomes Freire (Jardim), custeado por João Ramos Filho.

Na realidade, o resultado da eleição foi ainda mais apertado do que Hélio Petrus se lembra. A diferença de votos foi de apenas 249 votos, tendo sido eleitos 7 vereadores da Arena e apenas 4 do MDB.

 

As bandas The Rebels, Os Abutres e Os Incas, nesse período, consolidavam-se e extrapolavam os limites geográficos do município, realizando bailes em diversas cidades como Ouro Preto, Rio Casca, Ponte Nova, Lafaiete, Jequeri, Teixeiras, Rio Doce, Raul Soares, Santa Bárbara, Viçosa, e até mesmo fora do estado, como na ocasião em que, ainda em 1968, “em Sobradinho, cidade-satélite de Brasília [em uma apresentação dos Abutres], o Márcio Morais começou a cantar Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, foi abordado pela Polícia Federal e impedido de continuar a música”. Aqui, mais uma vez, há discordância nas versões: enquanto Cleber diz que a apresentação foi interrompida, Lalado afirma que a música foi executada e cantada, até o final, enquanto os empresários contornavam a situação com os agentes da censura.

Até meados de 1971 foi também o período em que as bandas conseguiram manter-se mais estáveis em termos de formação. Marcelo Rolim, Zé Afonso, Evandro, Marcelo Morais, Jairo e Strauss compunham o The Rebels: Cleber, Fernando, Lalado, Canelão, Carlinhos Baeta (tecladista) e Ari Loreto (percussionista) eram os integrantes d’Os Abutres, sendo o conjunto Os Incas integrado por Léo Murta, Otacílio, Vicente Mentes e Waltinho.

Um dos aspectos em que não há nenhuma discordância é quanto à destinação do dinheiro dos cachês dos bailes ou apresentações. Tanto os ex-integrantes do The Rebels quanto Cleber Antunes (Abutres) confirmam que o dinheiro era sempre “usado para comprar novos instrumentos, pagar contas e criar modelos de roupa para o conjunto”. “A gente não punha dinheiro no bolso não” e “a gente nem dividia dinheiro entre nós, era a conta de pagar instrumento, reformar, porque sempre tinha válvula queimando”, são algumas das afirmativas, respectivamente feitas por Marcelo Morais e Marcelo Rolim. Jairo complementa dizendo que “foi só depois de um certo tempo que Evandro dividia lá no final, pra tomar uma cerveja, pro cinema, pra namorar, entendeu?”.

A banda The Rebels, em ensaio fotográfico feito no Museu de Arte Sacra de Mariana – Fotógrafias: Márcio Eustáquio de Souza

Além de sempre buscar mais e melhores equipamentos, uma preocupação constante era com as roupas. “Figurino era meio complicado, porque a gente copiava, às vezes. A gente tinha um uniforme tipo Beatles”, conta Jairo Antunes, referindo-se aos terninhos utilizados pelos rapazes de Liverpool no início da carreira, e também aos uniformes utilizados à época do lançamento do festejado álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, em 1967.

“A gente [. .] fazia roupa bacana. A gente tocava de smoking. Em foto, você vai ver, estava de smoking”, comenta Marcelo Morais com satisfação, mas a partir daí acontece novo desencontro de informações. Um diz que a confecção foi de Farrate (Conceituado e “folclórico” alfaiate, já falecido, cuja alfaiataria funcionava na Rua Direita, em Mariana), enquanto outro afirma que foi um primo seu, envolvido com alta costura, quem fez todos os ternos da banda.

“A questão do repertório é também um aspecto que merece consideração, por sua característica aparentemente democrática na banda The Rebels, mas que no início acabava recaindo mais sobre Aloísio, que afirma: “Eu ouvia muito, sempre gostei de música, sempre ouvi rádio. (…) Eu sempre me dediquei mais a ouvir música, né, não sei se os outros também. Aí eu, geralmente, eu na época eu comprava todos os discos do conjunto, eu ouvia muito o rádio, né, então o que fazia sucesso eu comprava. Eu tinha uma pilha de LP, uma radiolazinha para poder pegar, aí levava para lá para poder pegar as músicas e tal, porque tinha que ser tudo no ouvido porque ninguém estudou música, ninguém”.

O Aloísio também era muito bom para isso. Acho que escutava muito rádio. A gente não escutava muito”, revela Marcelo Morais, acrescentando que só foi conhecer FM quando estava em um elevador, em Belo Horizonte, quando “fomos provar roupa”. E completa, a respeito do papel de Aloísio, nesse aspecto: “É, ele dava muita opinião. A opinião deve prevalecia. Pô, tem uma música muito bacana tocando aí, The Marmelade por exemplo, aí a gente comprava o disco… não tinha nem sistema de fita, nem nada”.

Antes da entrada de Jairo no The Rebels ninguém cantava. O repertório era inteiramente constituído por músicas instrumentais, “música de guitarra”, segundo Aloísio Rolim. Nos Abutres a situação não era diferente. Além da já citada “O Milionário”, Cleber relaciona também as músicas Tema de Lara, Love story e Czardas.

Depois que Jairo passou a integrar a banda, o repertório cresceu, incorporando músicas com vocal, principalmente músicas italianas e a banda precisou se adaptar. Já nos Abutres, Cleber confessa: “Eu passei para o vocal porque era muito ruim de bateria e a única vaga que existia era de crooner”.

De qualquer forma, durante muito tempo, os irmãos Cleber e Jairo eram os únicos responsáveis pelo vocal em suas respectivas bandas, sucedendo-se as apresentações nos mais variados locais de Mariana, tais como as sedes do Guarany, Marianense e Esporte Clube 29 de Junho (Passagem de Mariana), escolas (Dom Frei Manoel da Cruz, Colégio Providência, Dom Benevides, Gomes Freire), Salão Paroquial e Senzala, como também na vizinha cidade de Ouro Preto (Centro Acadêmico da Escola de Minas – CAEM, Escola de Farmácia e Praça Tiradentes), além das outras cidades já mencionadas anteriormente.

À frente da administração municipal que dispunha de pouquíssimos recursos, Hélio Petrus resolve buscar no turismo novas fontes de renda e é convencido por João Bosco Carneiro, Vanderlei Machado e Frederico Ozanan a inscrever uma candidata marianense no concurso Miss Minas Gerais, promovido pelos Diários e Emissoras Associadas, tendo como organizador o colunista social Nicolau Neto.

A ligação do colunista com Ozanan já existia. Ele conta que, quando trabalhava em São Brás do Suaçuí, já havia estabelecido uma parceria com Nicolau Neto, ainda nos anos 1960, inscrevendo uma candidata, patrocinada pela prefeitura local, que “não ganhou nada não, mas era uma menina muito bonita”.

Vanderlei afirma que a ideia partiu de conversas dos três, no Senzala e que, depois da anuência de Hélio Petrus, João Bosco e Ozanan foram conversar com Nicolau Neto em Belo Horizonte, mas não se lembra do porquê de não ter ido: “Eu sei que depois João Bosco chegou indicando uma pessoa, que eu falei “não, vamos levar a Eliane Guimarães, que participou do programa Mineiros Frente a Frente, na TV Itacolomy, […] e Eliane Guimarães tinha ido com aquela Lilian Tófoli de Ouro Preto, representando Ouro Preto, e aí foram muito elogiadas lá. Aí nós convidamos”.

Ozanan corrobora a declaração de Vanderlei Machado e, inclusive, revela que a intenção era promover um concurso local, com três ou quatro participantes, para indicar a representante marianense, mas que a indicação de Eliane Parreira Guimarães foi acatada. “Aí nós cancelamos o certame e por indicação de Vanderlei, foi um tiro mesmo certeiro. Nós escolhemos sem nenhuma coisa e deu certo”.

O ex-prefeito, porém, conta que foi procurar Nicolau Neto, por indicação de João Bosco, para pedir ajuda na divulgação de eventos na cidade, de modo a incrementar o turismo, e que o próprio Nicolau é quem teria sugerido a inscrição de uma candidata no concurso Miss Minas Gerais. Diz, também, que só ficou conhecendo a candidata quando, em uma conversa com Vanderlei, Benjamim Lemos e João Bosco no Senzala, teve sua atenção chamada por uma moça alta, com um capote escuro que acabara de chegar. “Lembrei que uma das características principais colocadas pelo Nicolau é que uma candidata a Miss deveria ser alta”.

Hélio Petrus conta ainda que, mesmo sem ter visto adequadamente o rosto da moça, chamou a atenção de Vanderlei que, coincidentemente, a conhecia, já que ambos estavam estudando Farmácia em Ouro Preto: “Aí não deu outra, né? Caldo quente, farinha nele! No dia seguinte eu já fui, com João Bosco, à casa dela, procurar Dr. Osvaldo para pedir permissão, né? Eu tive um trunfo a meu favor, porque já conhecia o Dr. Osvaldo lá de Saramenha, porque ele era médico lá da Alcan. [..] Eu disse a ele: ‘Dr. Osvaldo, a Prefeitura está querendo participar desse certame aí, do Miss Brasil (sic), e já conversamos com a Eliane. Ela falou que precisaria da sua autorização”.

Em junho, Eliane Guimarães é escolhida, em Belo Horizonte, Miss Minas Gerais 1971, sem nenhum custo para os cofres públicos. Mas, na etapa nacional, “o município tinha que participar com o enxoval dela, e o pessoal começou a gritar, achar que era dinheiro jogado fora. […] Eu sei que na época era um dinheirão. Dez mil cruzeiros”.

Na realidade, parece não ter sido bem assim. Um empenho emitido pela Prefeitura Municipal de Mariana, no dia 20 de maio de 1971, destina a Eliane Guimarães a quantia de Cr$ 3.500,00 (três mil e quinhentos cruzeiros), equivalente, em 2018, a aproximadamente R$ 17.000,00, como “auxílio para cobrir despesas de representação como candidata de Mariana ao concurso de Miss em Belo Horizonte”.

Eliane Guimarães foi recebida com festa em Mariana, com direito a discurso do Prefeito Hélio Petrus. No início do mês seguinte, no Ginásio do Maracanãzinho, na capital do então Estado da Guanabara, é escolhida Miss Brasil, recebendo como prêmios um conjunto de joias de prata, um automóvel Dodge Charger, 15 mil cruzeiros e um contrato de 24 mil cruzeiros com os Diários Associados.

Eliane Parreira Guimarães – Mis MG e Miss Brasil 1971 – Capa da Revista O Cruzeiro – Ano XLIII, nº 28, 14-07-1971
É a voz de Mariana, Minas, em forma de poesia. Os Alffonsus de Guimaraens, pai e filho, cantaram em versos a beleza da terra que também deu Eliane Parreira Guimarães, Miss Brasil 1971. O Maracanãzinho lotado, viu e aplaudiu o poema de 1 metro e 80 centímetros de altura, medidas perfeitas, que é Eliane, môça simples de sorriso meigo, quase tímido. (…) Eliane, 21 anos de brejeirice, estará dia 24 em Miami, defendendo a beleza da mulher brasileira, no Miss Universo (O Cruzeiro, Ano XLIII, nº 28, 14-07-1971, p.8)

Paralelamente aos preparativos para a escolha da Miss Minas Gerais 1971, por sugestão de João Bosco, resolve-se realizar em Mariana um festival de música, cuja história já foi contada no episódio 3: “A vida não se resume em festivais”.

Na banda The Rebels não há quem possa indicar com precisão a época da saída de Straus e foram prestadas informações desencontradas sobre a época em que Jairo deixou a banda. Jairo afirma ter deixado a banda em 1970 ou 1971, depois da saída de Aloísio, mas este afirma, categoricamente, que só deixou a função de tecladista da banda em 1972.

Também n’Os Abutres, Cleber não afirma com precisão as datas de alterações na formação da banda, como a saída de Lalado. Quando Cleber deixou a bateria a cargo de Fernando Motta, a guitarra base foi assumida por Reinaldo Pedrosa, definido como “um dos melhores guitarristas solo que tive a oportunidade de conhecer”. Quanto a Lalado, foi substituído por Otacílio no contrabaixo, possivelmente em 1972, ainda antes de uma nova mudança que afetou substancialmente tanto o The Rebels quanto Os Abutres. A passagem de Otacílio da banda Os Incas, para Os Abutres, aparentemente, deveu-se – ou foi determinante – para o encerramento das atividades da banda comandada por Waltinho Magalhães.

Durante esse período, um fato marcante iria afetar a política marianense. Em 15 de novembro de 1972, exatamente no dia da eleição de seu sucessor, Hélio Petrus é informado de seu afastamento da administração municipal pelo Juiz de Direito da cidade.

Para o ex-prefeito, o pivô do caso foi o vereador oposicionista Derly Pedro da Silva que, aproveitou-se da ingenuidade de trabalhadores braçais da Prefeitura de Mariana, para forjar uma denúncia de improbidade administrativa que culminou com sua condenação em 1ª instância, inclusive à revelia, pois seus advogados não compareceram ao julgamento (PETRUS, 2017). Acusa também o vereador João Bosco Carneiro, companheiro de partido, de ter contribuído para sua condenação e afastamento, em uma represália por não ter tido apoio em sua pretensão de ser candidato à Prefeitura Municipal em 1972.

Essa versão, com pequenas variações, é confirmada por Vanderlei Machado: “O que eu fiquei sabendo é o seguinte: foi uma traição do próprio João Bosco que colocou ele como prefeito. Isso a gente, todo mundo comentava na época, porque o João Bosco convida o cara para ser prefeito, logo depois ele não é favorecido, ele denuncia um negócio que estava construindo uma sauna para a irmã do Hélio. (…) Na época falaram que ele construiu a sauna com um funcionário da prefeitura. A denúncia foi essa. Não sei se realmente foi, se teve isso, se não teve, realmente não fiquei sabendo, mas que foi uma traição, foi”.

Com o afastamento de Hélio, seu vice João Rapallo assumiu a administração municipal até 31 de janeiro de 1973, quando tomou posse João Ramos Filho, eleito em novembro de 1972. Durante seu curto mandato, e mesmo tendo sido eleito pelo MDB, Rapallo mandou instalar, em frente ao prédio da prefeitura/Câmara, um monumento em homenagem ao General Emílio Garrastazu Médici, retirada do local, mais tarde, por iniciativa dos vereadores.

Dom Oscar inaugurando, com João Rapallo, monumento em homenagem ao General Médici

O período entre 1971 e 1973 é marcado por grandes mudanças nas bandas Os Abutres e The Rebels, além do término da banda Os Incas, mas as datas informadas nas entrevistas são discrepantes. Aloísio Rolim diz que cedeu seu lugar a Carlinhos Baeta, como tecladista em 1972, ocasião em que Jairo ainda era integrante do The Rebels. Jairo, entretanto, diz que saiu da banda em 1971, mas afirma ter permanecido após a entrada de Carlinhos, e que essa mudança teria acontecido “logo no início, logo que eu entrei mudou”.

N’Os Abutres, a saída de Carlinhos é considerada por Cleber um dos principais motivos para o término da banda, juntamente com o fim dos bailes e das horas dançantes em nossa cidade e região: “Carlinhos Baeta, que já tocava conosco há bastante tempo, resolveu, de uma hora para a outra, nos deixar e passar para os Rebeldes. Foi um baque enorme para o conjunto. Sinceramente, nunca soube quais foram os motivos pelos quais ele deixou os Abutres. Como tínhamos compromisso na cidade de Santa Bárbara, procuramos o Dadinho, que passou a integrar o conjunto”.

Dadinho era o apelido de Geraldo Magela Walter, estudante da então denominada Escola Técnica Federal de Ouro Preto, que confirmou aos autores ter ingressado na banda Os Abutres em meados de 1972, tendo ficado pouco tempo, até próximo ao final do mesmo ano, quando a banda teria encerrado suas atividades.

A substituição de Aloísio por Carlinhos é cercada de controvérsias e até mesmo alguns ressentimentos. Marcelo Rolim afirma que a substituição foi motivada por faltas de Aloísio aos ensaios, por causa de uma namorada. Marcelo Morais confirma isso e afirma que “todo mundo queria ir para os Rebeldes, modéstia à parte”. Mas Aloísio contesta e, inclusive, dá uma versão que contraria a declaração de Cleber quanto à situação da banda Os Abutres na ocasião: “Bom, eu não sei internamente lá o que aconteceu, eu sei que o Carlinhos estava à toa, então eu lembro que ele foi conversar comigo, no princípio eu não gostei muito porque eu gostava de tocar, eu não estava pensando em dinheiro, eu estava pensando em tocar, mas o Carlinhos era melhor do que eu, ele já tinha mais tempo de, ele tocava acordeom há muitos anos, desde menino e tal e eu falei, não, então tá, eu estou fazendo duas coisas, aí então vamos separar, eu vou ser empresário, ai eu vou ter um pequeno, se eu ganhar é despesa e mais alguma coisinha assim, quando eu viajar”.

Marcelo Morais e Marcelo Rolim contam o episódio de maneira ligeiramente diferente, afirmando ter sido este último quem efetivamente tratou do convite para Carlinhos Baeta integrar o The Rebels, ficando Aloísio como empresário, atividade que ele já desempenhava paralelamente à sua atuação como tecladista.

Aloísio afirma que a questão de faltar aos ensaios foi uma desculpa de seu irmão Marcelo Rolim, que era amigo de Carlinhos Baeta e queria colocá-lo na banda. Confessa que o afastamento da linha de frente da banda deixou-o desmotivado, mas ressalta que, para a banda, a entrada de Carlinhos Baeta foi muito positiva, devido à maior bagagem musical.

“Com a saída de Aloísio e de Jairo, grandes mudanças ocorreram na banda. Evandro Rolim passou a ser o líder. Marcelo Rolim chega a exagerar ao afirmar que Evandro ensinou Marcelo Morais a tocar baixo e Carlinhos a tocar órgão e que “só não me ensinou porque ele não sabia bateria”. Essa liderança é reconhecida por Marcelo Morais: “Isso aí eu falo para todo mundo com a maior tranquilidade. Evandro, realmente, para mim, ele era o craque da banda” e a questão dos vocais foi resolvida com Marcelo Rolim assumindo a maior parte, mas também com várias músicas cantadas por Evandro e por Marcelo Morais.

Foi também em 1971 que a banda Os Incas sofreu a sua primeira baixa, com a saída de Léo Murta, substituído por Ivon Pachá. Este ano, juntamente com o seguinte, estabelece um marco importante na trajetória das bandas de baile de Mariana. Na verdade, a fixação desse período foi feita numa tentativa de organizar cronologicamente os eventos, já que os depoimentos são um pouco vagos em relação às datas.

Embora não tenham sido encontrados documentos ou fotografias, há indícios que Mundinho D’Angelo tenha substituído Otacílio n’Os Incas, quando este transferiu-se para Os Abutres, para ocupar o contrabaixo quando Lalado saiu da banda. Na mesma ocasião, ou pelo menos pouco tempo depois, Silas Pedrosa teria ingressado na banda Os Incas em função da saída de Vicente Mendes.

A partir de informações colhidas com Selma Magalhães, irmã de Waltinho, é possível deduzir que a banda Os Incas tenha encerrado suas atividades no final de 1972, quando Waltinho terminou o curso de Engenharia Geológica na Universidade Federal de Ouro Preto.

Assim, tudo leva a crer, que a partir de 1973, a banda The Rebels tenha sido a única remanescente das bandas de baile de Mariana.

Isso, porém não duraria muito tempo. Em uma dada ocasião, possivelmente em 1978 ou início de 1979, Zé Afonso foi afastado da banda, que prosseguiu suas atividades reduzida a 4 integrantes.

Antes disso, em 1977, João Bosco Carneiro convidou os integrantes da banda para gravação de um compacto duplo, com 4 músicas de sua autoria. Contando, inclusive, com o aporte financeiro de aproximadamente R$ 9.0000,00 (atualizados para 2018) concedido como subsídio pela Prefeitura Municipal, com o aval da Câmara, o compacto foi lançado pela gravadora BEMOL (Belo Horizonte), mas teve sua distribuição feita de modo amadorístico.

Algum tempo depois da saída de Zé Afonso, o marco da fase do “princípio do fim” foi um baile de debutantes realizado em Conselheiro Lafaiete, do qual Evandro Rolim não participou por estar acompanhando sua esposa durante o parto de seu primeiro filho, Guilherme Rolim.